segunda-feira, 7 de julho de 2014

Tá bem

A minha filha está a crescer.
Sim, sei que parece bastante óbvio que assim seja. Afinal, é a sequência natural. Ela tem de crescer. E tem feito isso mesmo desde o dia que nasceu. Um dia vai parar, eventualmente. 
A linguagem tem galopado nos últimos meses. Começou devagar, no verão passado. Com a língua sem saber bem para que lado ir dentro da boca. E nós a vermos a  confusão espelhada nos olhos enquanto a língua não fazia o que ela pensava que queria ou devia fazer.
Começou devagar mas incrivelmente sonora. Gritava as palavras. Não as sussurrava na sua insegurança de bebé. Gritava-as. Tal como se as palavras estivessem guardadas dentro do seu pequeno peito e, tivesse chegado um dia em que já não tinha espaço dentro dela para as guardar. As palavras aprenderam um novo caminho e em vez de ficarem quietinhas no seu resguardo, explodiam como balões de água. Ninguém conseguia ficar indiferente. Nós não queríamos ficar indiferentes. Ela gritava mãe e pai como uma carroceira. Nós adorámos. 
Eu falo muito com ela. Estamos muito tempo juntas. Partilhamos os fins de tarde, os gelados e o baloiço, vemos a lua aparecer e os pássaros a cruzar o céu, contamos os aviões, observamos as formigas e cantamos a canção da joanhinha voa voa. 
Sei que muito do que diz aprendeu comigo e isso dá-me um calor tolo. Nem um ano passou e já me responde... "tá bem" com enfado. Também deve ter aprendido comigo. Agora é esponja. Absorve as palavras. Abre os olhos, imita o que se diz. O gesto acompanha e é vê-la mini-mimo. A repetir palavras das grandes, daquelas que levam várias voltas de língua. Já diz "oh não", "num conchigo", "ajuda", "bachio" e mais umas trezentas palavras com o som ch pelo meio. 
As minhas favoritas até agora são "eu também" quando lhe digo que gosto dela. 
A minha filha está a crescer. 

4 comentários:

Escrevam-me de volta. Gosto de saber que não estou a "falar" sozinha.... :-)