sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Sobre medo e coragem.

Tenho escrito pouco sobre nós por aqui, sobre mim, elas e ele. Sinto falta disso, tenho mesmo que fazê-lo mais. Ajuda-me a reflectir sobre o que aconteceu porque no meio da pressa, do correr de um dia de semana, do lava os dentes e veste a roupa, calça os sapatos ou come a fruta, atender o telefone ou apanhar a roupa, passam momentos que não conseguimos verdadeiramente aproveitar. Não há mal nisso. Era loucura, pelo menos para mim, exigir isso a mim mesma. Em vez disso, faço um esforço por esmiuçar os que me deixaram um sentimento, seja ele qual for. Esses são os prioritários, o resto vou deixando a vida cuidar.
Com a Sara a entrar para a creche, embora num horário mais privilegiado, os meu dias e ritmos mudaram. Dou por mim a ter mais tempo para pensar, o que nem sempre é bom. Também isso é um caminho a percorrer, uma aprendizagem a fazer.
A minha filha mais velha... ainda me parece estranho começar uma frase assim, porque será? A minha filha mais velha quer andar de trenó, quer neve. Hoje de manhã, explicávamos-lhe que neve só na Serra da Estrela e que era longe, que não conseguíamos ir lá com facilidade e que esse desejo teria que ficar para outra hora. Logo de seguida ela começou a dizer que tinha medo, que estava com medo de andar de trenó. O R sugeriu que ela podia andar com ele e que aos poucos ela habituar-se-ia e deixaria de ter medo. Ela insistiu no medo, na sua falta de coragem.
Que ideia errada e tão comum, não é? Ter medo não é ter falta de coragem. Ter medo é a resposta inconsciente minha filha, é o teu corpo, o teu cérebro a reconhecer o desconhecido, não é falta de coragem. Falta de coragem é não ir mesmo assim porque te domina o medo, coisa que tu habitualmente não fazes. Coragem é qualquer escolha que tu faças, andar de trenó ou não, desde que não seja o medo a decidir.  Por isso, eu lembrei-te daquele dia do insuflável. O dia em que tu subiste as escadas de um insuflável gigante, no meio de miúdos muito mais velhos que tu que se empurravam e que te empurravam e, lá do alto, olhas para mim e sou eu que estou cheia de medo. E aí vens tu por aí abaixo, a escorregar.
O teu medo transformado em coragem, filha, o meu medo transformado em orgulho.


7 comentários:

  1. Você escreve muito bem, deveria pensar em escrever um livro. Eu que sou uma pessoa de pouca leitura, dou por mim a ler os seus textos até ao fim. Muitos Parabéns! =) #omeumedotransformadoemorgulho

    ResponderEliminar
  2. Escolhes sempre as palavras certas! Vou-me lembrar delas quando tiver que explicar o que é a coragem aos meus filhos. Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada Diana, isso é um grande, grande elogio. Mas estou certa que tu também encontras as palavras certas para o fazer <3

      Eliminar
  3. Obrigada por partilhares connosco as tuas reflexões!

    ResponderEliminar
  4. Tens o dom de me colocar a lagrimita no canto do olho.
    Vocês são uma família linda, e eu tenho muito orgulho só de vos conhecer...
    bjs*

    ResponderEliminar

Escrevam-me de volta. Gosto de saber que não estou a "falar" sozinha.... :-)